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“A EDUCAÇÃO MEDEIA A PRÁTICA REAL DOS HOMENS!”


O ser humano em sua tríplice dimensão: produtiva, político-social e simbólica é sujeito de reprodução e criação da sua existência, ou seja, para perpetuar sua vida é capaz de não só existir, produzir, conviver ou organizar-se em sociedade. Tem capacidade também de preparar as novas gerações para que continuem o processo de desenvolvimento da sua espécie. E a isso chamamos de educação. Forma pela qual uma sociedade situada em um tempo e espaço se utiliza para produzir e reproduzir permanentemente sua existência. Em cada tempo e sociedade a educação é um fenômeno singular. Ela é responsável pela manutenção-transformação da sociedade, pois está atrelada a interesses de classes antagônicas.
Em relação à tríplice prática humana, a educação medeia essa existência, porque num modelo de sociabilidade capitalista; os indivíduos são formados segundo necessidades econômico-ideológicos direcionando-os para um certo tipo de trabalho, justificando assim o verdadeiro motivo pelo qual o homem submete seu semelhante a seus interesses, independentemente do tipo e nível da sua educação. Isso porque a educação apresenta-se sob duas formas na existência humana segundo está na obra do Álvaro Vieira Pinto: Sete lições sobre educação de adultos (1993):
 Não-formal: sob esta forma, o autor chega a discriminá-la como processo “autêntico” ou “verdadeiro”. Está relacionada à existência não-escolar do homem. Ou seja, diz respeito às práticas cotidianas do ser, sua forma de pensar, de conviver, seus valores, costumes, comportamentos, aprendizagens e formas de ser e agir construídos pela própria experiência no e com mundo. Assim como este pensador, o Carlos Rodrigues Brandão em sua obra: O que é educação (1981) cita já no início deste trabalho, que “ninguém pode escapar da educação”. Na educação não-formal o homem a todo o momento está recebendo influências e influenciando. A diferença fundamental desta, para a educação formal é que estas recíprocas influências acontecem de maneira não-sistemática. Por exemplo: o pai; quando ensina o filho a jogar bola ou a pescar, a mãe; quando ensina a filha a cozinhar, a comportar-se perante a mesa, quando os meios de comunicação interferem na maneira de ser e de agir das pessoas, isto é educação e até aquilo que é visto como má-educação como atitudes agressivas, palavrões, falta de etiqueta, indisciplina, etc., tudo é produto educacional. Ou seja, aqui educação “é toda e qualquer aprendizagem”.                  
Formal: A educação aqui é um processo sistemático, intencional, que acontece em lugar pensado e preparado para se alcançar os fins desta modalidade educacional. Que para o Álvaro Vieira Pinto (1993) é um processo “restrito”. Educação aqui é sinônimo de instrução. Para tanto, exige um profissional capacitado, que domine uma certa área de conhecimento e as ferramentas pelas quais se facilitará o processo educacional escolar. Poderíamos dizer que a “educação formal é um processo sistemático de produção do homem” já aqui existe uma série de preocupações e predisposições para que aconteça de fato a aprendizagem. Estamos falando da transmissão-apropriação-reconstrução de um conhecimento denominado de científico. E não de uma socialização do senso comum.
A educação formal medeia à prática real dos homens, porque é através dela que o homem no domínio dos conhecimentos, apropriados durante os anos escolares tem maiores possibilidades de fazer parte do mundo do trabalho, vivendo do fruto deste, de galgar status, de socializar-se e realizar-se como pessoa. A apropriação desta educação científica é encarada hoje como direito inalienável do ser humano, portanto é dever do estado prover através dos seus “aparelhos ideológicos principais” [as escolas], a socialização dos conhecimentos imprescindíveis para a “formação” dos seus indivíduos. Tanto que para os órgãos nacionais e internacionais medirem o grau de desenvolvimento seja de um município, estado ou nação, um dos aspectos fundamentais é verificar o nível de instrução do povo.
Porém, a educação também é um fenômeno “contraditório” como assevera o Álvaro Vieira Pinto (1993). E pode estar a serviço de uma determinada ideologia, que procura conservar o status de poucos em detrimento de muitos, que além de não possuírem os meios de produção da sociedade... O conhecimento que possuem não lhes foi socializado de maneira igualitária, como afirma Dermeval Saviani em sua obra A Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações (1992).
O Carlos Rodrigues Brandão (1981) neste sentido, diz que a educação possui uma “força” que lhe é inerente, mas, também uma “fraqueza”. Para ele a educação mais do que pensar tipos de homens, ela os cria, e esta é a sua força. Todavia pode estar à serviço de interesses políticos e econômicos. Mascarando através de discursos e práticas da ação pedagógica, ideologias que procuram submeter e convencer os indivíduos a aceitarem a “ordem social” que está posta, como uma verdade e única possível. E nisto consiste a sua fraqueza!    
Finalmente, nossa compreensão sobre o fenômeno educativo provavelmente deve ter ampliado-se. Passamos agora a perceber que educação não está limitada a processos de escolarização e de transmissão-produção de conhecimentos científicos. Ela acontece a todo momento e em todo lugar. Sendo, portanto, processo que medeia a prática real dos homens, independentemente do tipo de educação que este possua e do produto final deste processo (positivo/negativo), seja ele desejável ou não para o indivíduo, seja para o todo social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Álvaro vieira Pinto: Sete lições sobre educação de adultos, 1993.
 Carlos Rodrigues Brandão: O que é educação, 1981.
 Dermeval Saviani Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações, 1992.

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