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A Educação do mercado


A educação Escolar é o processo formal (dentro claro de uma vertente crítica), ligado a interesses de classe que tem o objetivo maior a: manutenção-transformação de uma determinada sociedade, situada em um determinado tempo. Partindo desta afirmativa poderemos esboçar agora nosso pensamento diante do caos que se instaurou na educação de nosso país. Para nós, que estudamos com afinco a educação, percebe-se que estamos anos-luz de atingirmos nossos ideais quando pensamos a prática real da educação e o que está prescrito na lei e nas produções cientificas de tantos bons autores em tantas dimensões que interferem e são interferidas pelo ato de educar.
Enquanto continuar sendo transferida a responsabilidade em cuidar da educação a empresários, partidos políticos, em geral a iniciativa privada e o pior de todos, a pessoas que não entendem e nem querem entender de educação, viveremos vendo morrer aos poucos a nossa educação. Diante de tantas observações feitas, estudos realizados, anotações e produções com o intuito de averiguar em que grau de desenvolvimento em educação(educacional) estamos, preocupo-me bastante, pois é visível o descaso com a “coisa-educação” pública! Não é possível que sejamos um país desenvolvido economicamente(em desenvolvimento) e não tenhamos aprendido a socializar igualitariamente os bens culturais desta nação tão rica de belezas naturais e tão bela em diversidade cultural. Por que será que nossos índices caem tanto nas pesquisas internacionais? Por que há tanta desigualdade regional em matéria de educação? Por que ha tantos reprovados nos finais de ano letivo? Por que as crianças e jovens não estão mais dando a educação o valor que ela tem em suas vidas? Existiriam dezenas e dezenas de perguntas a serem feitas aqui... mas, todas levariam a uma só resposta: a educação está em tanta evidencia nesta sociedade que muitos acreditam ser a do conhecimento, que ela foi banalizada!
Prestemos atenção, quando falam em educação, quase sempre falam em algo que virou moeda de troca, que pode ser mercantilizada, que precisa ser funcional, que o menos possível de conhecimento e conscientização são o ideal. A educação na era das máquinas avançadas e do “conhecimento” é sinônimo de treinamento e domesticação.
Segundo o filósofo Paulo Ghiraldelli Junior, a função da filosofia da educação está em desbanalizar o que se tornou banal. E de fato a educação em sua origem esteve antes de qualquer coisa atrelada à formação do ser como um todo, hoje, as dimensões múltiplas do ser estão suprimidas, no menos segregadas, pois o foco que a educação formal foi levada a aderir é o mesmo foco do mercado competitivo. Portanto, a verdadeira educação foi banalizada, vulgarizada, violada, negada... tudo em prol de seres-recursos-humanos mais competentes, empreendedores, treinados, eficientes e com muitas outras características exigidas pelo capital, produzidas e legitimadas  também no interior de nossas escolas. Em especial, nas escolas públicas, para o público pobre. Pois como assevera Althusser: a escola é o aparelho ideológico mais poderoso do estado. 
De certa forma é até engraçado, se não fosse trágico pensar assim: “para o capitalismo, nada se perde, tudo se recicla.” Na escola que temos, legitimadora da lógica do capital, tanto faz se ela funciona como não. Se o garoto não aprende, será colonizado, se aprende, além de colonizado, defenderá a ideologia do seu colonizador. Trocando em miúdos a mensagem que quer passar Gaudêncio Frigotto em sua obra: A Produtividade da escola Improdutiva... se a escola não garante a aprendizagem do saber científico (se é que o quer!), ao menos, garante mentes sempre dispostas a obedecer e a tudo topar por um lugar ao sol!
A Educação do mercado, é aquela educação dos modismos pedagógicos, do cientificismo, que se diz a educação do futuro, é a educação meritocrática, “bancária”, elitizada, preparadora de competidores para vestibulares, ela é classista, porque a sociedade é classista e exige dela pessoas que a perpetue com discursos e práticas.
Como fazia Paulo Freire, precisamos de uma educação que seja prática da liberdade. Que eduque sem roubar a autonomia dos educandos, que se preocupe com o futuro das crianças e dos jovens, sem negar-lhes o presente que é dádiva. Uma educação que conscientize para a cidadania no mundo com a vivência da cidadania na escola.  Uma educação que seja humana. Uma educação que também produza ciência. Pois a escola não é um ambiente da hegemonia da classe dominante sobre a classe dominada. Mas sim, lugar de resistência, de conflito, de produção de uma contra-ideologia.
É preciso ter em mente que quem produz os sistemas são os homens. E se esses sistemas não respondem mais aos interesses do bem-estar comum, eles devem ser mudados pelos próprios homens, seus criadores. A educação é um bem social, não é privilégio em essência, se tornou privilégio através do autoritarismo e ganância de homens.
Por isso não cabe a ninguém que respeita o homem e a educação, aceitarem os discursos fatalistas e imobilizantes, que negam a possibilidade da mudança e apagam a esperança dos olhos daqueles que com a ajuda da escola, sem sombra de dúvidas, poderiam voltar a sonhar e a arregaçar as mangas na construção de outro tipo de sociedade, que não seja a do mercado competitivo e excludente.
PAULO ROBERTO LEAL - PEDAGOGO 

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